Ao longo do encontro, os trabalhadores de todo o estado, dos mais diversos ramos, debateram não somente os impactos da tecnologia na classe e em suas respectivas categorias, mas as novas possibilidades de organização e luta dos sindicatos.
Segundo Telma Aparecida Victor, professora e secretária de Formação da CUT-SP, essa conferência foi importante para qualificar o enfrentamento nas ruas. “Estamos num momento de grande desafio à classe trabalhadora, com retirada de direitos, a criminalização do movimento sindical e a rápida adoção de tecnologia pelas empresas que reduzem ou modificam muitos cargos. Então é importante estarmos preparados para uma resposta à altura a essas questões. Mas importante também é saber que estamos alinhados a um projeto formativo da CUT por todo o país, respeitando e mantendo todos os princípios que fundaram a nossa entidade”.
No primeiro dia, os participantes contaram com análises e debates, tendo, entre os convidados, a pesquisadora da Unicamp e assessora sindical Marilane Teixeira e Fausto Augusto Junior, coordenador do Dieese (veja vídeo abaixo). Já no segundo dia, foram feitos grupos de trabalho para que os participantes aprofundassem suas discussões antes de elaborarem as propostas gerais.
Indústria 4.0
Tanto no Brasil como em outros países, a tecnologia avança dentro das empresas com a substituição da mão de obra humana por máquinas e robôs que realizam os mesmos serviços. Essas empresas, além de não oferecem nenhuma contrapartida para garantir os empregos, ainda são beneficiadas com reformas políticas – como a trabalhista e a terceirização sem limites-, que facilitam a troca desses trabalhadores sem a necessidade de pagar algum direito.
Com o desemprego em alta, outro problema que a chamada indústria 4.0 traz é a criação de novas modalidades de trabalho focadas no enaltecimento da atividade autônoma, mas com poucas coberturas de direitos sociais. A Uber é um dos principais exemplos desse modelo por se apresentar apenas como mediadora de um serviço, sendo, no entanto, detentora de todas as formas de controle. Sem garantir direitos trabalhistas aos seus motoristas, ela “legaliza” a precarização da mão de obra.
Presidente da CUT-SP, Douglas Izzo afirmou que a Central tem o desafio de dialogar com os trabalhadores dessas novas modalidades, ajudando-os na organização e no enfrentamento e defesa de pautas trabalhistas. “Os participantes deste encontro apresentaram uma preocupação com as mudanças, em função das novas formas de produção de bens e serviços, que modificam profundamente as relações no mundo do trabalho. Por isso, nós, sindicalistas, temos que nos preparar para organizar os trabalhadores que já estão nos nossos sindicatos, mas também os de categorias que estão surgindo e que não estão organizados de nenhuma maneira”.
A Secretaria de Formação da CUT-SP, desde o ano passado, em realizado as conferências temáticas e locais em parceria com as demais secretarias, coletivos, subsedes e sindicatos ligados à entidade. Desde o início, mais de 700 participantes se revezaram em 33 encontros, tanto em atividades amplas como nas temáticas de Mulheres, Juventude, Combate ao Racismo, Saúde do Trabalhador, Meio Ambiente, Comunicação, LGBT+, entre outros. Para a etapa estadual, foram eleitos 25 delegados que irão representar o estado na etapa seguinte.
Rosane Bertotti, secretária nacional de Formação da CUT, disse que a estratégia das etapas locais é garantir que na conferência nacional, prevista para maio, em Minas Gerais, os participantes já estejam afinados com o debate. “São Paulo teve bons exemplos de construção da Conferência, sobretudo com as temáticas, que provocaram outros estados a realizarem as suas, todas com conteúdos excelentes. Tenho certeza que o encontro nacional irá colaborar no apontamento do papel que a entidade deve ter para os próximos anos”.
A dirigente também ressaltou que a etapa final pedirá pela liberdade do ex-presidente Lula, preso político há um ano, e reforçará a luta contra a reforma da Previdência de Jair Bolsonaro (PSL). “Diante do que ocorre no Brasil, de ataques aos trabalhadores, a CUT tem a certeza de estar no caminho certo e seguirá firme na luta por direitos, sem medo de enfrentar os poderosos, pois é essa ousadia que nos trouxe até os 35 anos de existência”.
A última Conferência de Formação foi em 2006, durante os governos Lula. 13 anos depois, o país vive outra realidade, que além dos desafios tecnológicos no mundo do trabalho, está sob o aprofundamento de uma crise política e econômica com a ascensão de políticos da extrema-direita, alinhados em propostas que acabam com direitos trabalhistas, como a reforma da Previdência. Nesse sentido, a Conferência serviu de espaço para a definição de estratégias de diálogo com as bases.
Confira, a seguir, a transmissão realizada pela CUT-SP do primeiro dia da Conferência: